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CEEC Brasil compra complexo solar Coremas por R$ 520 milhões

05, 11 2025 | Notícias

CEEC possui uma operação de águas e saneamento no interior de São Paulo e vê no mercado de energia elétrica oportunidades concretas de expansão no Brasil

A CEEC Brasil, subsidiária brasileira da China Energy, vai realizar o primeiro investimento em energia no país. A empresa fechou a aquisição do complexo solar Coremas, na Paraíba, por R$ 520 milhões. O negócio é, para a estatal chinesa, o ponto de partida no setor elétrico. A CEEC possui uma operação de águas e saneamento no interior de São Paulo e vê no mercado de energia elétrica oportunidades concretas de expansão no Brasil.

O complexo, adquirido do Fundo de Investimento em Participações (FIP) Coremas, é composto por três parques solares (Coremas I, II e III), que somam 93,4 megawatts-pico (MWp) de potência. Os empreendimentos foram contratados em leilões de energia de reserva realizados em 2014 e 2015 e entraram em operação entre 2018 e 2020.

Em 2017, a Nordic Power comprou da Rio Alto Energias Renováveis 70% de participação nos três projetos. A venda das usinas, na época, se deu porque os custos dos painéis solares, importados, cresceram com a desvalorização do real. A Nordic é uma joint venture da European Energy Exchange (EEX) e o Impact Fund Denmark. O Valor não teve retorno da Nordic nem dos acionistas até o fechamento da reportagem.

O projeto, segundo o diretor de desenvolvimento de negócios da CEEC Brasil, Marcelo Taulois, abre espaço para ser aperfeiçoado, com a realização de novos investimentos na planta para melhoria na operação e manutenção. “Podemos avaliar até a hibridização da usina”, disse Talouis.

Tornar híbrida, neste caso, seria instalar um sistema de armazenamento de energia por meio de baterias (BESS, na sigla em inglês), que guarda energia nos momentos de geração e libera para a rede quando solicitado pela operação. Esse, por sinal, é um dos focos da companhia, destacou Talouis. A empresa mira o mercado em formação, à espera do leilão de baterias que o governo pretende realizar, ainda sem data prevista. “No ano passado, construímos 7 gigawatts-hora (GWh), metade de todos os projetos BESS na China”, afirmou.

Talouis destacou que a CEEC está avaliando mercados na América do Sul na estratégia de expansão da empresa.

A CEEC estuda também adquirir projetos renováveis a serem desenvolvidos do zero (“greenfield”), eólicos ou solares, e entrar no segmento de hidrogênio verde, entre outras possíveis atuações no Brasil. O presidente da CEEC Brasil, Rafael Qi, salienta que a expansão da empresa no Brasil é reflexo do bom relacionamento com a China, que no futuro tende a se fortalecer.

Um sinal de que a relação entre os países será ainda mais forte foi a cúpula dos Brics, realizada recentemente, no Rio. Além disso, ressaltou Qi, Brasil e China completaram 50 anos de relação diplomática em 2024.

As observações do executivo se dão num momento em que a relação entre Brasil e Estados Unidos se deterioraram rapidamente desde a assunção de Donald Trump à presidência do país norte-americano. Uma das razões sinalizadas por Trump para a aplicação de tarifas de 50% sobre as exportações brasileiras seriam a atuação dos Brics para a busca de uma alternativa ao dólar como moeda global.

No setor de energia, empresas chinesas expandiram a atuação nos últimos anos, entrando em áreas como geração, transmissão e engenharia. O Brasil também viu petroleiras chinesas atuarem na exploração de óleo e gás. Além disso, o país asiático tem sido a origem de diversos equipamentos utilizados por empresas de energia. No setor solar, por exemplo, a China é responsável por produzir cerca de 90% da oferta global de painéis solares.

No Brasil, a CEEC atua desde 2013. Em 2018, assumiu, por US$ 980 milhões, a operação da Estação de Tratamento de Água São Lourenço, em São Paulo, em uma parceria público-privada (PPP) firmada com a então estatal Sabesp. Também foi responsável, entre outros projetos, pela construção de uma das linhas de transmissão que conecta a usina de Belo Monte ao sistema elétrico. A CEEC executou também as obras para construção de uma usina de geração de energia a partir de resíduos urbanos (waste-to-energy) em Barueri.

Na China, a CEEC é um grupo estatal que atua em diversos segmentos, como tratamento de água, mercado imobiliário, meio ambiente e mercado financeiro. Um das principais negócios é o braço de engenharia, sendo responsável pela construção da hidrelétrica de Três Gargantas, a maior do mundo, entre outros projetos. A CEEC tem mais de 120 mil colaboradores no mundo e atua em 147 países, com mais de US$ 50 bilhões de receita em 2023, dado mais recente disponível.

Publicado no Valor Econômico.